Querida insónia, impregna-me nesta subtil dança,
Entre nuvens e estrelas de outras constelações,
Brincarei dentre delas tal e qual briosa criança,
Espero que assim sejam preenchidos mil corações,
Entretanto vem o sono na ligeireza deste embalar,
A despedida ao real, aceno ao devaneio inebriado,
Exacerba-me e enfim concede-me asas para voar,
De sorriso no rosto através da terra e céu sonhado,
Diz o viandante "Os dias correm e soam só a vida,
Há caminho, sozinho ou acompanhado a resumir,
O mundo vai passando e dá-me finalmente guarida,
Mesmo sabendo que cada momento um dia irá partir,
Assim me fico entre o amanhã e ontem, nesta partida
Que na impermanência tanto me faz chorar como sorrir,
O nascimento do sol traz assim nova esperança,
Vem e sê o meu cobertor minha doce madrugada,
Envolver-me-ei em repouso no teu leito tal criança
Que não teme o destinado dessa margem afastada,
Acenando a mil despedidas póstumas: é o caminho,
De asas nos tornozelos e vista numa longa paisagem,
Assim em mim sou partida, quase sempre sozinho
E em mim quem foi ou será, será em mim bagagem,
Este desassossego é esta ponte entre margens, o andar,
Que é quase voo e quase afogamento no quase acidental,
Sem saber bem o que nos espera ou pelo quê esperar,
Vai indo o vagabundo entre o supérfluo e o essencial,
Desde que as noites vindoiras ensinem o que é amar
Prometo-vos que por onde for comigo irá o vendaval!
Sem comentários:
Enviar um comentário