terça-feira, 20 de setembro de 2022

Quando a ternura for a única regra da manhã . José Luis Peixoto

Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, 

acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela. 

e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. 

um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for 

tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada 

de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da

 nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso 

será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi 

nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar 

a perfeição da felicidade.

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