terça-feira, 20 de setembro de 2022

Teoria das cordas . Manuel António Pina

 Não era isso que eu queria dizer, 

queria dizer que na alma 

(tu é que falaste na alma), 

no fundo da alma, e no fundo 

da ideia de alma, há talvez 

alguma vibrante música física 

que só a Matemática ouve, 

a mesma música simétrica que dançam 

o quarto, o silêncio, 

a memória, a minha voz acordada, 

a tua mão que deixou tombar o livro 

sobre a cama, o teu sonho, a coisa sonhada; 

e que o sentido que tudo isto possa ter 

é ser assim e não diferentemente, 

um vazio no vazio, vagamente ciente 

de si, não haver resposta 

nem segredo.

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