quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O vestido amarelo . Raquel Serejo Martins

 Depois da análise virtual, cor, materiais, corte, tamanho, preço, disponibilidade em loja, depois da devida aprovação, hoje fui de propósito à loja experimentar o (artigo definido) vestido amarelo. 

Um amarelo entre o amarelo gema de ovo e o amarelo canário sem a acidez do amarelo limão. 

E na loja encontrei o vestido, achei-o mais bonito do que na fotografia, quero dizer o amarelo, imaginei um dia de calor amarelo, 100% algodão, definitivamente Junho, sair a horas do trabalho, uma esplanada, um refresco, já ninguém diz refrescos, e enfiei-me com o vestido no provador, para cinco minutos depois, menos de cinco minutos depois, o meu sorriso amarelo cor de ameixa em frente ao espelho, o vestido não queria nada comigo apesar das minhas melhores intenções. 

Talvez se eu tivesse mais um palmo ou menos... e novidade nenhuma. 

Assim, devolvi o vestido ao cabide, vesti-me como um lutador de boxe, vencido, despe as luvas e, sobre a compra que não fiz, incomodei-me pelo tempo que perdi, estava melhor a ler um livro, pensei, a minha unidade de medida para todos os tédios, e mais me incomodei por ter já no armário um vestido amarelo, amarelo gengibre, e um vestido amarelo é mais que suficiente, o consumismo devora o planeta e a felicidade não depende da quantidade, não sejas mais um rato às voltas na roda, não comas mais chocolate, pequena, mas os amarelos são difíceis de encontrar, e este era tãoooo diferente, o corte, os bolsos, os botões, e sim há dias em que sou uma pessoa assim.

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