Como um pescador
sentado numa cadeira de metal e lona,
dessas que se compram na Decathlon,
com um buraco no braço,
e a dimensão perfeita
para arrumar um copo,
uma garrafa de cerveja.
Como um pescador
de olhos na linha do horizonte,
Porto Brandão, Trafaria,
a pensar na vida,
a pensar em nada.
Como um pescador
chapéu de pescador,
frasco com isco vivo,
cesto de vime,
a vigiar as três canas de pesca que enfiou no chão de Belém.
Como um pescador,
sentado na cadeira do escritório,
sobre a secretária,
não um aquário,
uma planta num vaso,
uma fotografia de família,
uma garrafa de plástico com água alcalina,
gostava de passar um dia
de olhos na linha do horizonte,
horizonte nenhum,
persianas, janelas, traseiras de prédios,
mais janelas, persianas, escritórios,
a pensar na vida,
a pensar em nada,
a vigiar rato, teclado e computador,
a tentar perceber como seria diferente o meu dia,
o valor da minha pescaria,
o tamanho da minha fome,
não de peixes mas de pescadores.
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