terça-feira, 20 de setembro de 2022

Octogésimo sexto de 365 . Vitor Hugo Moreira

 Hoje não te escrevo para te falar do amor, nem para te falar do meu dia a dia nem tão pouco para te falar das guerras que sangram nos telejornais bem das crianças órfãs que me digam migalhas de amor. Coitadinha. Hoje escrevo unicamente para te falar sobre nada. Essa tão ridicularizada forma de estarmos na sociedade em que debatemos a cor das pedras da rua que nos leva ao futuro e as utopias do passado. O silêncio e o absolutamente nada. Uma faca na outra noite cortou um pedaço da palavra e esta jorrou lágrimas de silêncio, passando cores azuis nas latrinas do poema. Não acreditas? E se eu te dizer que a minha boca beijou o sexo do teu nome quando o pronunciei silabamente? Pois é, as árvores crescem seguramente sós na leitura dos silêncios onde recebe as nossas respirações, enquanto nos encontramos nelas encostados de costas voltadas para a natureza. E na cor azul dos teus olhos que encontro o infinito do céu. Mas não é do azul dos teus olhos que falamos. Mas sim do céu. Da tua boca onde pássaros percorrem pelos escafandros da noite pousando fazendo ninho de cansaços e de emoções pronunciaveis na longitude da distância das nossas falas. E hoje regressamos na ilusão dos domingos. Onde repousando o corpo de mármore ficamos imóveis. E muitas vezes o somos, simplesmente o somos vestidos de razões, e noutras vezes apenas a razão do beijo nos veste, e outras tantas vezes as sombras nos resta. Mas nada diremos. Nada o diremos. O silêncio toma conta de nós como a mãe embala a criança num jeito maternal de o adormecer. E adormecemos os sonhos nas constantes horas do dia. E o nosso coração é preenchido por formigas de sensações que nos adventam os olhos numa loucura de onde somos constantemente impreparados para a longevidade da vida. E pronto, hoje não te escrevo para te falar das aventuranças das nossas vidas nem das vidas que nos rodeiam. Somente te escrevo porque o silêncio me fala e se me constrói rostos de luz em torno do teu nome. E é isto, dentro dos olhos ramos de árvores batendo contra a janela da vida. Talvez a isto lhe chame de saudade.

Sem comentários:

Enviar um comentário