terça-feira, 20 de setembro de 2022

Estrela da tarde . Ary dos Santos

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia 

Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia 

Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria. 

Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia 

Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia 

E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria 

Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia 

Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia. 

 

    Meu amor, meu amor

    Minha estrela da tarde 

    Que o luar te amanheça 

    E o meu corpo te guarde. 

    Meu amor, meu amor 

    Eu não tenho a certeza 

    Se tu és a alegria 

    Ou se és a tristeza. 

    Meu amor, meu amor 

    Eu não tenho a certeza! 

 

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram 

Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram 

Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram 

E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram. 

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram 

Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam 

Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram 

E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram. 

 

    Meu amor, meu amor 

    Minha estrela da tarde 

    Que o luar te amanheça 

    E o meu corpo te guarde. 

    Meu amor, meu amor 

    Eu não tenho a certeza 

    Se tu és a alegria

    Ou se és a tristeza. 

    Meu amor, meu amor 

     Eu não tenho a certeza! 

 

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto 

É por ti que adormeço e acordado recordo no canto 

Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto 

Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto 

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

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